quinta-feira, 27 de março de 2014

A lágrima do céu

*Um texto de Lázaro Ambrósio

A chuva caindo faz os meus planos criados para viver um dia perfeito declinarem. Por que pra mim quando chove nada é perfeito. Tudo adquire um aspecto lamurioso. Eu lamento pelo fato da água estar caindo do céu, e lamento por qualquer coisa que venha a acontecer.

Lamento antecipadamente pela moça que terá a roupa encharcada por que esqueceu seu guarda chuva em casa, e lamento por que nenhum cavalheiro irá lhe oferecer abrigo. Eu lamento pelo rapaz que vai xingar o motorista que passará com o carro pela poça e espirrará água com lama em suas roupas surradas. Lamento pelo feirante que não poderá montar sua barraca, ou por aquele que teimosamente montará e vai permanecer na solidão sem seus clientes, que estarão abrigados em seus lares, sem se importar que o feirante tenha montado teimosamente sua barraca num dia chuvoso.

Lamento pelos vendedores nas sorveterias, que não poderão saciar os desejos das famílias e dos casais, e pelo menino descuidado que não poderá se sujar e provocar o riso dos adultos.

Lamento pelas crianças que não poderão brincar na praia ou no parque, e lamento por que elas não se importam com isso. E lamento também pelo morador de rua, que não tem como escapar da fúria da tempestade, mas lamento mais ainda pelo cão que lhe acompanha, que se molhará e depois ficará fedido.

Lamento pela moça bonita que não poderá por aquele salto devastador e aquele vestido perfeito, e não poderá perturbar os sonhos dos homens solitários, e nem conquistar o coração do empresário de sucesso.

Lamento pelo motociclista que vai escorregar e quebrar seus ossos no asfalto liso como manteiga, e lamento pelo telefonema que a família vai receber, e também pelo atendimento que o hospital público vai lhe oferecer.


Lamento principalmente por que eu também esqueci o guarda chuva em casa. E estou á mercê do tempo, perdido nas minhas lamentações.

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