A chuva caindo faz os meus planos criados para viver um dia
perfeito declinarem. Por que pra mim quando chove nada é perfeito. Tudo adquire
um aspecto lamurioso. Eu lamento pelo fato da água estar caindo do céu, e
lamento por qualquer coisa que venha a acontecer.
Lamento antecipadamente pela moça que terá a roupa
encharcada por que esqueceu seu guarda chuva em casa, e lamento por que nenhum
cavalheiro irá lhe oferecer abrigo. Eu lamento pelo rapaz que vai xingar o
motorista que passará com o carro pela poça e espirrará água com lama em suas
roupas surradas. Lamento pelo feirante que não poderá montar sua barraca, ou
por aquele que teimosamente montará e vai permanecer na solidão sem seus
clientes, que estarão abrigados em seus lares, sem se importar que o feirante
tenha montado teimosamente sua barraca num dia chuvoso.
Lamento pelos vendedores nas sorveterias, que não poderão
saciar os desejos das famílias e dos casais, e pelo menino descuidado que não
poderá se sujar e provocar o riso dos adultos.
Lamento pelas crianças que não poderão brincar na praia ou
no parque, e lamento por que elas não se importam com isso. E lamento também
pelo morador de rua, que não tem como escapar da fúria da tempestade, mas
lamento mais ainda pelo cão que lhe acompanha, que se molhará e depois ficará
fedido.
Lamento pela moça bonita que não poderá por aquele salto
devastador e aquele vestido perfeito, e não poderá perturbar os sonhos dos
homens solitários, e nem conquistar o coração do empresário de sucesso.
Lamento pelo motociclista que vai escorregar e quebrar seus
ossos no asfalto liso como manteiga, e lamento pelo telefonema que a família
vai receber, e também pelo atendimento que o hospital público vai lhe oferecer.
Lamento principalmente por que eu também esqueci o guarda chuva
em casa. E estou á mercê do tempo, perdido nas minhas lamentações.
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